[:en]How to think like an innovator[:pt]Como pensar como um inovador[:]

[:en]Entrepreneurs and innovators prefer effectual reasoning over causal reasoning.

Nearly a month has gone by since the start of this semester’s classes and a good part of my entrepreneurship students are now reaching the conclusion that the projects they proposed are not having the reception they imagined by the potential clients and that it might be better to postpone their trip to Silicon Valley. This is a consequence of their commitment to interview at least 10 potential customers per week throughout the semester the be sure that the product or service they are working on is addressing real problems, and the process starts by talking with persons that have these problems. We are trying to avoid that they develop a technological product disconnect from the needs of the market. An innovator must think differently.

I am writing this chronicle in Denmark, where I came to a meeting on innovation with representatives of more than 50 technical universities that belong to the CESAER group (www.cesaer.org). One of the issues under discussion is how to instill an innovative mindset in students, researchers, and teachers. But what characterizes this innovative mindset?

In 1997, Saras D. Sarasvathy started a research project with the goal of understanding if there are any differences in the way that entrepreneurs think. She met with about 30 founders of companies valued from 200 to 6,500 million dollars, from different areas, from steel to teddy bears, from semiconductors to biotechnology. For 2 hours she asked them to solve the same set of 10 problems related to decisions on the best way to build a company starting with the same product idea. The results showed that almost all of them had a similar way of thinking, that Sarasvathy termed as “effectual reasoning” in opposition with causal or predictive reasoning commonly used when looking for the causes given an effect.

In a work environment with little uncertainty, we use causal reasoning to identify the technical or material resources needed to tackle a given problem. That is how we were trained. However, in a highly uncertain environment, such as a startup with a new technology, entrepreneurs use “effectual reasoning” to identify all the goals they can be achieved with the resources available to them. It is a creative way of thinking where the goals are being adjusted in a cycle of “effectuation”. The effectual reasoning is based on five principles.

Bird-in-hand principle. We must start by identifying the material and immaterial resources we already have at our disposal. It is not only what we have, but also who we are, what we know and whom we know, this allows us to search for all the goals that we can try to achieve.

Affordable loss principle. The investment in a project should not be without bounds, we have to think more in the losses than in the profit. We should not bet everything but look for ways to get the most progress with minimum investment.

Crazy quilt principle. The effectuation cycle begins by seeking partners with similar goals that are willing to commit with us. Even those who appear to be a competitor can become our partner. Combining our resources to our partners’ and adjusting for common goals.

Lemonade principle. This principle is based on the expression that says that when life gives us lemons we should make lemonade. Surprises and disappointments are normal in highly uncertain environments but should be seen as opportunities to adjust the objectives in the effectuation cycle. Almost all entrepreneurs have success stories that resulted from failures.

Pilot-in-the-plane principle. An uncertain environment makes it difficult to forecast the future, which is a source of anxiety. However, there is no need to fear the future if we are able to maintain control of the situation. If all goals fail, we can always try land the plane in the Hudson.

We now know that many of the features we thought were innate are no more than the result of a set of circumstances that have defined the development of an individual. As we know that we can train scientists, we presently have some evidence that we can also train people in ways of acting and thinking that enhance their ability to innovate giving value to all mankind.

These are mechanisms that we intend to integrate the training at our universities, taking students out of their comfort zone, validating in the real world the value of a problem whose solution can benefit from the resources that are available to them. By the way, if you have a problem that would pay someone to find a solution, please contact me at lco@tecnico.ulisboa.pt. I have some students in despair.

Luís Caldas de Oliveira, @LuisCaldasO

Adapted from my opinion column in Jornal i of March 20th, 2018 (in portuguese)[:pt]Empreendedores e inovadores preferem o raciocíno efetivo em vez do raciocínio causal.

Passado quase um mês do início das aulas, uma boa parte dos alunos de Empreendedorismo estão agora a chegar à conclusão de que os projetos que propuseram não estão a ter o acolhimento que imaginaram junto dos potenciais clientes e que talvez seja melhor adiar a sua viagem para Silicon Valley. Esta é uma consequência do seu compromisso de entrevistarem pelo menos dez potenciais clientes por semana ao longo do semestre, com o objetivo de mostrar que o produto ou serviço deve resolver problemas reais, e esse processo tem de começar por falar com quem tem esses problemas. Procura-se evitar o desenvolvimento de um produto tecnológico desligado da necessidade do mercado. Um inovador deve pensar de forma diferente.

Escrevo esta crónica na Dinamarca, onde vim para uma reunião sobre inovação com representantes das mais de 50 universidades técnicas que pertencem ao grupo CESAER (www.cesaer.org). Um dos temas em discussão é a forma de incutir uma mentalidade de inovação nos alunos, investigadores e professores. Mas o que caracteriza essa mentalidade inovadora?

Em 1997, Saras D. Sarasvathy iniciou um projeto de investigação com o objetivo de perceber se há alguma diferença na forma de pensar de pessoas reconhecidamente empreendedoras. Reuniu-se com cerca de 30 fundadores de empresas, avaliadas desde os 200 aos 6500 milhões de dólares, de diferentes áreas, desde o aço aos ursos de peluche, dos semicondutores à biotecnologia. Durante duas horas fê-los resolver o mesmo conjunto de dez problemas em que tinham de decidir a melhor forma de construir uma empresa começando com a mesma ideia de produto. Os resultados mostraram que quase todos apresentavam uma forma de pensar que Sarasvathy denominou como raciocínio efetivo (effectual reasoning) por oposição ao raciocínio causal ou preditivo normalmente usado quando procuramos as causas para um dado efeito.

Num ambiente de trabalho de pouca incerteza utilizamos o raciocínio causal para identificar os recursos técnicos ou materiais que precisamos de reunir para procurar resolver um dado problema que nos é apresentado. Foi assim que fomos treinados. No entanto, num ambiente de elevada incerteza, tal como numa startup com uma nova tecnologia, os empreendedores usam o “raciocínio efetivo”, que consiste em identificar todos os objetivos que podem atingir com os recursos de que dispõem. É um raciocínio criativo em que os objetivos vão sendo ajustados num ciclo de “efetivação”. O raciocínio efetivo baseia-se em cinco princípios.

Princípio do pássaro na mão. Temos de começar por identificar os recursos materiais e imateriais de que já dispomos. Não é apenas o que temos, mas também quem somos, o que sabemos e quem conhecemos o que nos permite encontrar todos os objetivos que podemos tentar alcançar.

Princípio da perda comportável. O investimento num projeto não deve ser ilimitado, temos de pensar mais nos prejuízos que no lucro. Não devemos apostar tudo, mas procurar a forma de conseguir o maior progresso com o mínimo de investimento.

Princípio da manta de retalhos. No ciclo de efetivação devemos começar por procurar parceiros, com objetivos semelhantes, disponíveis para assumir compromissos connosco. Mesmo quem aparenta ser um competidor poderá vir a ser nosso parceiro. Juntamos os nossos recursos aos dos nossos parceiros e ajustamos os objetivos comuns.

Princípio da limonada. Este princípio baseia-se na expressão segundo a qual quando a vida nos dá limões devemos fazer limonadas. Surpresas e desilusões são normais em ambientes de elevada incerteza, mas devem ser vistas como oportunidades para ajustarmos os objetivos no ciclo de efetivação. Quase todos os empreendedores têm histórias de sucesso que resultaram de fracassos.

Princípio do piloto no avião. Um ambiente de incerteza torna difícil fazer a previsão do futuro e isso é uma fonte de angústia. No entanto, não há necessidade de temer o futuro se soubermos manter o controlo da situação. Se os objetivos fracassarem todos, podemos sempre tentar amarar o avião no Hudson.

Sabemos hoje que muitas das características que pensávamos que eram inatas não são mais do que o resultado de um conjunto de circunstâncias que definiram o desenvolvimento de um indivíduo. Tal como sabemos que podemos treinar cientistas, temos presentemente algumas evidências de que podemos treinar pessoas para terem formas de agir e pensar que potenciam a sua capacidade de inovar, trazendo valor para toda a humanidade.

São estes mecanismos que pretendemos integrar na formação que oferecemos nas universidades, ao levar os alunos para fora da sua zona de conforto, fazendo a validação no mundo real do valor de um problema cuja solução possa beneficiar dos recursos de que dispõem. Já agora, se tiver um problema por cuja solução pagaria a alguém, contacte-me para lco@tecnico.ulisboa.pt. Tenho alguns alunos a entrar em desespero.

Luís Caldas de Oliveira, @LuisCaldasO

Adaptado da minha coluna de opinião no Jornal i de 20 de março de 2018[:]